sábado, 1 de setembro de 2012

Autor não identificado

O desconhecimento do "eu"

Que país é esse?
Que pessoas são essas?
Que valores são esses?

Não sei aonde estou
Não sei com quem estou
Não sei quem eu sou

Estou vagando
Talvez, procurando
Caminhando, viajando

Para onde vou?
Como vou?
Com quem vou?

Eu não sei quem você é
Você não sabe quem sou eu
Afinal, quem somos nós?

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Eduarda Silva Prado


Amor...

 Dói amar e não ser correspondido e dói mais ainda amar e depois deixar de ser amada.
  Você brincou com os meus sentimentos e ainda está sendo falso.
 Enquanto você se diverte, eu choro.
 Enquanto você tenta me convencer de ser sua amiga eu penso que te amo.
 Enquanto você falava que me amava de mentira, eu te amava de verdade.
 E agora vem com essa história de que somos jovens e temos que viver a vida e aproveitá-la, porque depois não podemos voltar no tempo e nunca teremos outra chance.
 Isso não é ser falso? Sempre dizia que me amava e de repente não me ama mais.
 Você nunca se importou se éramos jovens demais ou não para um compromisso.
 Você só me "amava" e era isso que importava.
 Você disse que tem que viver a vida, mas a minha eu perdi.
 As coisas não são assim como você pensa, são diferentes.
 Isso que você fez é covardia.

Douglas Nasser


A vida

Ás vezes a felicidade está na nossa
frente mas para alguma pessoas
é tão difícil acreditar
quando o que sempre sonhou
finalmente se concretiza
que elas criam empecilhos.

Foi tão esperado e programado
tudo é tão perfeito que se torna
difícil de aceitar o que é real.

Então eles tentam transformá-la na ilusão
com a qual estão acostumadas
que parece tão mais segura e fácil
de lidar...

E é ai que elas a perdem..

João Paulo Catani


A paixão entre uma pessoa e seu time de futebol.

Logo no dia em que eu nasci
Ele ganhou meu coração
A primeiro roupa que eu vesti
Foi do meu timão

Por não ter libertadores
Eu era zoado
Mas em 2012
Foi consagrado

Existe a gaviões, a pavilhão Nove
Mas tentar nos entender
Nem tente,
Você não é louco o suficiente

A minha poesia acabou
Mas o amor pelo me time não
Ganhando ou perdendo
Até a morte serei timão

Yara Borges


Minha dúvida

Não sei onde estou
Não sei para onde vou
Não sei qual caminho percorrer
Só sei que quero estar lá
Quero sorrir, chorar
Chegar e ficar,
Onde o coração cantarolar
Onde a pessoa que vos fala
Finalmente se encontrar

Crítica à sociedade

  Do latim societas, segundo o dicionário: reunião de pessoas unidas pela origem ou por leis; parceria; associação amistosa com os outros.
  Amistosa? Onde? Vejo pessoas roubando, matando e chorando. Tudo isso graças à "associação amistosa" entre brancos, mulatos, pardos, negros e orientais!
  As pessoas reclamam muito dos problemas sociais, econômicos e políticos do mundo. Mas elas não percebem que elas mesmas são os problemas. Elas causam os problemas. São egoístas, julgam, trapaceiam, passam por cima dos outros para conseguirem o famoso "sucesso", julgado ser o recanto da felicidade. Será mesmo?
  O lucro imposto pela sociedade capitalista, força e separação entre as pessoas, força e competição, a discriminação, a trapaça, as diferenças econômicas, e de certa forma, consequentemente, os atos de níveis de suicídio, que são quase sempre praticados não só por problemas financeiros, como problemas de autoestima, autoafirmação perante a sociedade, sendo este último o resumo de quase tudo.
  A mídia é um forte aliado nesses problemas. Ela impõem padrões como beleza, estilo de vida "feliz", o que leva às pessoas, principalmente jovens a pensarem que são perdedores por não terem o que a mídia julga ser bom, causando vícios em tóxicos, suicidas e marginais, pessoas estas que a própria sociedade cria e ainda reclama.
  Certa parcela de pessoas tem consciência de onde o mundo vai parar. E estas ajudam sofredores materialmente, emocionalmente e moralmente.Lutam para preservar princípios que realmente valem a pena. Se tivermos um pouco mais de atenção, perceberemos que hoje em dia, quase "todos" são bons. Mas não é bem assim. Muitos, os que têm condições de seguirem  os padrões de felicidade impostos pela mídia, não ligam para esse tipo de "papo". Escutam, mas não ouvem, ou fingem que não ouvem, na maioria das vezes, são esses os "burguesinhos". São estes também, a maior parte dos que julgam ser "falsos" os que realmente querem ajudar. Mas isso acontece mesmo. A sombra sempre ataca a luz. Sempre!
  Precisamos  ficar atentos sobre a verdadeira personalidade das pessoas que nos rodeiam. Pois de uma hora para outra, o cordeiro pode virar leão e até mesmo vice e versa. E ao contrário do que todos pensam, não é consciência que está em falta, mas sim ações!

Autor não identificado


Longe de casa

Na terra só dor
Dias sem humor
Palavras distantes do amor

Atos desprovidos de teor
Pessoas sem se expor
Noites de horror

No pensamento muita cor
Cheiro de flor
Atitude de valor

Sonhos cheios de calor
Nuvens feitas de sabor
Coração esplendor

Júlia Franco Garcia

Amizade

Amizade é assim
Surgi do nada
E não tem fim

Amor incondicional
Sem pecar
Sem fazer nada de mal

Um ombro amigo para chorar
Os melhores momentos, de se sonhar
Passeios curtos, mas muito marcantes
E com certeza importantes

Felicidade inocente
Que mexe com a gente
Lealdade em primeiro lugar
Sempre disponível aonde quer que estiver eu estarei lá.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pedro Batista

Cotidiano

Quando cai a noite
Tudo foi tão rápido
Mais um dia se foi
Como se fosse um lapso.

Tarefas diárias pra executar
Tantas tarefas que o dia não dá
Outra noite o sono chega
Um novo dia pra começar.

Dia e noite, noite e dia
O que fazer com tanta correira?
Fim de tarde, sol a pino
E muita gente vindo.

Mais uma semana
Outro mês
Um ano se foi
E o que você fez?

Laura Batista

Atores de Plantão

Você já percebeu?
Uma pessoa que cresceu
Brincou e esqueceu

Que é preciso falar a verdade
Na maior sinceridade
Já perdia a fé na humanidade
Deus, porque tanta maldade!

Que hipocrisia
Quem imaginaria
A falta de sabedoria
Mas quem diria!

Pedro Henrique do Prado Rocha

A Música
Depois de um dia longo e exaustivo,
Não há nada melhor do que sentar e descansar,
Ligue a música e, de repente,
Você já está em outro lugar.
Você se sente no paraíso,
Não há ninguém para lhe incomodar,
E em algumas ocasiões,
Ajuda, inclusive, a tristeza passar.
Deixe-se ser levado a outro mundo,
Dos poços mais fundos e escuros,
Até o Sol a brilhar,
Pois na música você sempre poderá confiar.
Cada som diferente se põe a criar,
E de repente,
Você percebe,
Que é ela quem lhe ajuda a continuar.
Seus segredos mais profundos,
E desejos irrealizados,
Os quais não pode contar,
Confie na música, pois ela irá te elevar.
Te elevará às maiores alturas,
Te elevará ao céu ,
Te elevará à Lua,
Não precisa se assustar,
Pois é a música que lhe irá levar,
Aonde quiser, à qualquer lugar
É ela quem lhe dá
A vontade e a liberdade de sonhar.

Isadora Rezende Lopes

Política
                Tão perto das eleições, e a única coisa que vejo é a poluição visual e sonora das cidades. Cartazes com rostos e promessas falsas, musicas irritantes repetindo números e mais números. Não nos preocupamos nem em ligar a televisão, propagandas políticas á cada 5 minutos nos cercam nos canais abertos.
               O brasileiro criou um conceito sobre a política e esse não muda. Dizemos que todo político é corrupto, mas nem nos preocupamos em que número que digitamos nas urnas. Colocamos a culpa em todos esses candidatos corruptos, afinal é o que a política é não é? O brasileiro não discute, os políticos são corruptos, mas simplesmente aceitamos esse fato, não questionamos nos adaptamos.
               Não sei exatamente definir minha opinião sobre a política brasileira, com mais da metade da população jovem alienada é o que esperamos de todo jovem, o problema é que a alienação não afeta só aos jovens, a aceitação da corrupção e o voto inconsciente é a prova disso, porque o povo não coloca pessoas decentes no governo? Não analisamos os candidatos, e depois ainda reclamamos da corrupção ou de como esta o país. A única coisa que esse país precisa é de educação, porque a educação resolveria o resto dos problemas, mas vivemos nesse ciclo vicioso: escolhemos os candidatos errados, não há investimento em educação, a população fica burra, e novamente escolhem os candidatos errados. Mas a população não está nem aí, o que queremos mesmo, é assistir a copa no nosso país, não é mesmo?

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Meu ideal seria escrever... - Rubem Braga

 Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem...
ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Martijn Scholten

Altas horas na madrugada
E não consigo dormir
Quase cinco da manhã
E eu parado aqui.

Olho pela janela
Vejo somente uma pomba
Mas a pomba parece feliz
Mais do que eu, um "songa-monga".

Não queria fazer isso
Mas achei necessário
Tomei minhas pílulas para dormir
Amanhã é meu aniversário.

Deve ser por isso
Que não consigo dormir
Acho que estou ancioso
Pois mais um dia vem aí.

A cabra e Francisco - Carlos Drummond de Andrade

 Madrugada. O hospital, como o Rio de Janeiro, dorme. O porteiro vê diante de si uma cabrinha malhada, pensa que está sonhando.

- Bom palpite. Veio mesmo na hora. Ando com tanta prestação atrasada, meu Deus.

A cabra olha-o fixamente.

- Está bem, filhinha. Agora pode ir passear. Depois volta, sim?
...

Ela não se mexe, séria.

- Vai cabrinha, vai. Seja camarada. Preciso sonhar outras coisas. É a única hora em que sou dono de tudo, entende?

O animal chega mais para perto dele, roça-lhe o braço. Sentindo-lhe o cheiro, o homem percebe que é de verdade e recua.

- Essa não! Que é que você veio fazer aqui, criatura? Dê o fora, vamos.

Repele-a com jeito manso, porém a cabra não se mexe, encarando-o sempre.

- Aiaiai! Bonito. Desculpe, mas a senhora tem de sair com urgência, isto aqui é um estabelecimento público. (Achando pouco satisfatória a razão). Bem, se é público devia ser para todos, mas você compreende... (Empurra-a docemente para fora, e volta à cadeira).

- O quê? Voltou? Mas isso é hora de me visitar, filha? Está sem sono? Que é que há? Gosto muito de criação, mas aqui no hospital, antes do dia clarear... (Acaricia-lhe o pescoço.) Que é isso! Você está molhada? Essa coisa pegajosa...O que: sangue?! Por que não me disse logo, cabrinha de Deus? Por que ficou me olhando assim feito boba? Tem razão: eu é que não entendi, devia ter morado logo. E como vai ser? Os doutores daqui são um estouro, mas cabra é diferente, não sei se eles topam. Sabe de uma coisa? Eu mesmo vou te operar!

Corre à sala de cirurgia, toma um bisturi, uma pinça; à farmácia, pega mercúrio-cromo, sulfa e gaze; e num canto do hospital, assistido por dois serventes, enquanto o dia vai nascendo, extrai da cabra uma bala de calibre 22, ali cravada quando o bichinho, ignorando os costumes cariocas da noite, passava perto de uns homens que conversavam à porta de um bar.

O animal deixa-se operar, com a maior serenidade. Seus olhos envolvem o porteiro numa carícia agradecida.

- Marcolina. Dou-lhe este nome em lembrança de uma cabra que tive quando garoto, no Icó. Está satisfeita, Marcolina?

- Muito, Francisco.

Sem reparar que a cabra aceitara o diálogo, e sabia o seu nome, Francisco continuou:

- Como foi que você teve ideia de vir ao Miguel Couto? O Hospital Veterinário é na Lapa.

- Eu sei, Francisco. Mas você não trabalha na Lapa, trabalha no Miguel Couto.

- E daí?

- Daí preferi ficar por aqui mesmo e me entregar a seus cuidados. Não posso explicar mais do que isso, Francisco. As cabras não sabem muito sobre essas coisas. Sei que estou bem ao seu lado, que você me salvou. Obrigada, Francisco.

E lambendo-lhe afetuosamente a mão, correu os olhos para dormir. Bem que precisava.

Aí Francisco levou um susto, saltou para o lado:

- Que negócio é esse: cabra falando?! Nunca vi coisa igual na minha vida. E logo comigo, meu pai do céu!

A cabra descerrou um olho sonolento, e por cima das barbas parecia esboçar um sorriso:

- Pois você não se chama Francisco, não tem o nome do santo que mais gostava de animais neste mundo? Que tem isso, trocar umas palavrinhas com você? Olhe, amanhã vou pedir ao Ariano Suassuna que escreva um auto da cabra, em que você vai para o céu, ouviu?

Estrambote

Que um dia Francis Jammes abra
lá no alto seu azul aprisco.
Mande entrar Marcolina, a cabra,
e seu bom amigo Francisco.

Marido e Mulher - Paulo Mendes Campos

 - Arnaldo, você é o fino: aqui em casa não tem uma gota d’água há cinco dias e você está uma pilha. Acho perfeitamente normal, meu bem, que você esteja nervoso… Mas você está com raiva é de mim, você está agindo como se fosse eu a responsável pelo fato de não ter água no Rio de Janeiro.
- Teresa, vou ser franco com você: você é a responsável pelo fato de não te...
r água no Rio de Janeiro. Tá bem?
- Não morei na piada.
- Não tem piada nenhuma. Estou falando português claro: você é a culpada pela falta d’água aqui em casa.
- Essa, não!
- Mas é claro que você é a culpada: toda mulher é culpada quando falta água em casa.
- Essa é a maior!
- Pois fique sabendo dum princípio banal: a mulher é a responsável pelas coisas que acontecem dentro de casa. Ela é a secretária administrativa, a gerente do lar!
- Mas o caso é que a água não acontece dentro de casa, a água vem lá de fora dentro dum cano. Tá?
- Teresa, quando um marido chega e as torneiras estão secas a culpa é exclusivamente da mulher. Não tenha sobre isso a menor dúvida.
- Mas isso é uma injustiça. O que eu posso fazer?
- Não sei: o problema é seu.
- Você hoje está muito engraçadinho.
- Escute, minha filha: a humanidade é dividida em homens e mulheres, é ou não é? Tanto numa tribo do Araguaia como no Rio, os homens cuidam dumas tantas coisas, as mulheres de outras. Na civilização cristã, a mulher toma conta da casa, o homem em geral trabalha fora. Estou certo ou errado? Logo…
- Mas espera aí…
- Logo, as mulheres são as responsáveis pela falta d’água.
- Francamente, você como sociólogo não fazia nem para o café. Que culpa tenho eu, a pobre Teresa, pelo fato de os prefeitos do Rio terem politicado o tempo todo?
- Que culpa? Uma parte da culpa, claro.
- Que parte?
- A parte que afeta a vida de casa. Os homens têm a outra parte. Morou? Falta d’água: culpa das mulheres; bagunça dos transportes: culpa dos homens.
- Estou começando a entender seu ponto de vista.
- Não é ponto de vista nenhum: é um fato trivial.
- Só não admito que as mulheres sejam culpadas pela falta d’água. Eu não entendo de água! Como é que eu, tomando conta de casa o dia inteiro, vou saber se o Governo fez ou não fez a adutora do Sandu?
- Do Guandu… Já disse que o problema é seu. Por que você não saiu em praça pública, não protestou, não botou fogo na Prefeitura ou no prefeito? O que você devia ter feito eu não sei.
- Venha cá. Não seria mais lógico que os homens ficassem encarregados dessa parte do abastecimento d’água? O que eu não me conformo é com a água…
- Seria se os homens é que ficassem em casa. Aliás, nisso você tem inteira razão: sempre achei que os homens deviam tomar conta de casa e que as mulheres deveriam sair para trabalhar. Perfeito.
- Eu não estou dizendo isto…
- Mas eu estou. Não estou brincando, não. A mulher tem muito mais capacidade de trabalhar do que o homem. Sempre admirei a ordem e a eficiência com que trabalham. Mulher exatamente só não tem vocação é para tomar conta de casa. São umas caóticas totais. Você vê um homem no escritório ou na repartição: trabalha chateado, reclamando, esquece as coisas, confunde tudo. E vê a mulher: mulher trabalha de bom humor! Agora, você quer ver um homem feliz: manda, por exemplo, ele organizar um almoço. Como é que ele faz tudo direitinho, muito satisfeito, não se esquece de nada, sai tudo uma beleza! Olhe aqui: um homem dentro duma cozinha é a imagem da felicidade! Mas a mulher vai para a cozinha como se fosse para o inferno.
- Você está ficando biruta.
- Biruta é a minha querida sogra. Estou dizendo uma coisa simples, uma coisa que a gente pode ver a toda hora. Primeiro: mulher se realiza no emprego; o homem uiva para ganhar a vida. Segundo: o homem é um frustrado porque gosta e tem jeito para cuidar de casa; mulher não sabe cuidar de casa, mulher detesta cuidar de casa! Isso ninguém me tira da cabeça.
- Pois para mim esta sua ideia é novidade.
- Novidade ou não, é a pura verdade. Você já olhou bem a cara dum homem quando ele lá um dia resolve encerar a casa? É uma cara de absoluta plenitude. E como os homens enceram bem! Agora, você reparou na cara duma mulher que vai trocar uma lâmpada? É a cara da vítima! A cara do casamento fracassado! Ela destorce a lâmpada queimada como se estivesse na cadeira elétrica!
- Ah, não, meu filho, isso é porque mulher tem medo de choque.
- Pois é: medo de choque… Mulher tem medo de choque mesmo com a eletricidade desligada… Não, minha filha, as coisas estão erradas, mas um ponto é indiscutível: o homem é um animal doméstico e a mulher é um animal social; o homem gostaria de organizar a casa e a mulher gostaria de organizar as coisas públicas; trabalho em casa devia ser para os homens; trabalho fora, para as mulheres. É claro.
- Queria ver você lavando as fraldas do Antônio Henrique…
- Lavaria, por que não? Lavar fralda é uma coisa chata para qualquer sexo, é um ônus… Mas isso não tem nada a ver com a história.
- Eu ficaria convencida se você fosse lá dentro e me preparasse uma laranjada bem geladinha, com pouco açúcar.
- Com o maior prazer!

Lucas Carvalho

Emoções

Doce e amargo
Caminhos opostos
Direçoes diferentes
Vidas...palavras
Olho,corro
Paro e vejo o abstrato
Doce e amargo
Olho de novo
Sem saída corro
Doce e amorgo
Talvez seja amor
Doce e amorgo
Vejo o abstrato
Talvez...

                                                    
Dias de Lua

Tenho que partir
Já presciso ir
Já é tarde de mais
Para chorar
Não posso ficar
Já é tarde
Por favor volte rapido
Minha noite ja esta acabando
Eu te amo noite.
Como o sol da manha de inverno
Tudo bem minha lua
Já é tarde
Chegou a minha hora
A hora de despedir
Já e tarde
Amanheçe
                                                            

 O Pássaro

Por favor
Cante para mim!
Ele cantou
Cantou tanto que desmaiou
Comprei outro
Cante para mim!
Ele cantou
Cantou muito,ate morrer
Decidi mudar
Cante para mim!
Ele cantou
Gostou tanto que não parou
Era simplismente meu rádio.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Como se fora um coração postiço - Rubem Braga

Nasceu, na doce Budapeste, um menino com o coração fora do peito. Porém – diz um Dr. Mereje – não foi o primeiro. Em São Paulo, há sete anos, nasceu também uma criança assim. “Tinha o coração fora do peito, como se fora um coração postiço.”

Como se fora um coração postiço... O menino paulista viveu quatro horas. Vamos supor que tenha nascido às cinco horas. Cinco horas! Cinco horas! Um meu amigo, por nome Carlos, diria:

-... a hora em que os bares fecham e todas as vitudes se negam....

Madrugada paulista. Boceja na rua o último cidadão que passou a noite inteira fazendo esforço para ser boêmio. Há uma esperança de bonde em todos os postes. Os sinais das esquinas – vermelhos, amarelos, verdes – verdes, amarelos, vermelhos, borram o ar de amarelo, de verde, de vermelho. Os olhos inquietos da madrugada. Frio. Um homem qualquer, parado por acaso no Viaduto do Chá, contempla lá embaixo umas pobres árvores que ninguém jamais nunca contemplou. Humildes pés de manacá, lá embaixo. Pouquinhas flores roxas e brancas. Humildes manacás, em fila, pequenos, tristes, artificiais. As esquinas piscam. O olho vermelho do sinal sonolento, tonto na cerração, pede um poema que ninguém faz. Apitos lá longe. Passam homens de cara lavada, pobres, com embrulhos de jornais debaixo do braço. Esta velha mulher que vai andando pensa em outras madrugadas. Nasceu, em uma casa distante, em um subúrbio adormecido, um menino com o coração fora do peito. Ainda é noite dentro do quarto fechado, abafado, com a lâmpada acesa, gente suada. Menino do coração fora do peito, você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.

Seis horas. O coração fora do peito bae docemente. Sete horas – o coração bate... Oito horas – que sol claro, que barulho na rua! - o coração bate...

Nove horas – morreu o menino do coração fora do peito. Fez bem em morrer, menino. O Dr. Mereje resmunga: "Filho de pais alcoólatras e sifilíticos..." Deixe falar o Dr. Mereje. Ele é um médico, você é o menino do coração fora do peito. Está morto. Os "pais alcoólatras e sifilíticos" fazem o enterro banal do anjinho suburbano. Mas que anjinho engraçado! - diz Nossa Senhora da Penha. O anjinho está no céu. Está no limbo, com o coração fora do peito. Os outros anjinhos olham espantados. O que é isso, seu paulista? Mas o menino do coração fora do peito está se rindo. Não responde nada. Podia contar a sua história: "o Dr. Mereje disse que..." - mas não conta. Está rindo, mas está triste. Os anjinhos todos querem saber. Então o menino diz:

- Ora, pinhões! Eu nasci com o coração fora do peito. Queria que ele batesse ao ar livre, ao sol, à chuva. Queria que ele batesse livre, bem na vista de toda a gente, dos homens, das moças. Queria que ele vivesse à luz, ao vento, que batesse a descoberto, fora da prisão, da escuridão do peito. Que batesse como uma rosa que o vento balança...

Os anjinhos todos do limbo perguntaram:

- Mas então, paulistinha do coração fora do peito, pra que é que você foi morrer?

O anjinho respondeu:

- Eu vi que não tinha jeito. Lá embaixo todo mundo carrega o coração dentro do peito. Bem escondido, no escuro, com paletó, colete, camisa, pele, ossos, carne cobrindo. O coração trabalha sem ninguém ver. Se ele ficar fora do peito é logo ferido e morto, não tem defesa.

Os anjinhos todos do limbo estavam com os olhos espantados. O paulistinha foi falando:

- E às vezes, minha gente, tem paletó, colete, camisa, pele, ossos, carne, e no fim disso tudo, lá no fundo do peito, no escuro, não tem nada, não tem coração nenhum. E quando eu nasci, o Dr. Mereje olhou meu coração livre, batendo, feito uma rosa que balança ao vento, e disse, sem saber o que dizia: "parece um coração postiço". Os homens todos, minha gente, são assim como o Dr. Mereje.

Os anjinhos estavam cada vez mais espantados. Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho de cinema e aí, foi, acabou a história. Porém o menino estava aborrecido, foi dormir. Até agora, ele está dormindo. Deixa o anjinho dormir sono sossegado, Dr. Mereje!

Salvo pelo Flamengo - Paulo Mendes Campos

 Desde garotinho que não sou Flamengo, mas tenho pelo clube da Gávea uma dívida séria, que torno pública nesse escrito. Em 1956, passei uma semana em Estocolmo, hospedado em um hotel chamado Aston. Era primavera, pelo menos teoricamente, havia um congresso internacional na cidade, os hotéis estavam lotados, criando contratempo para turistas do interior ou estrangeiros. A recepção do Aston, por exemplo, vivia sempre cheia de gente implorando por um quarto ou discutindo a respeito de uma reserva feita por telegrama ou telefone.

Estava há dois ou três dias na cidade, quando me pediram para receber um brasileiro e encaminhá-lo ao hotel, onde lhe fora reservado de fato um apartamento. Era uma hora da madrugada quando entramos no hotel e me encaminhei até o empregado do balcão, dando-lhe o nome do meu amigo e lembrando-lhe a reserva. O funcionário, homem, de uns sessenta anos e de uma honesta cara escandinava, tomou uma atitude estranha e difusa, que a princípio me surpreendeu e ia acabando por me indagar: ele não confirmava a existência da reserva, nem deixava de confirmar. Como começasse a protestar, vi que seu rosto tomava uma expressão aflita; eu entendendo cada vez menos. Quando passei a exigir o apartamento com alguma energia, o homem, trêmulo, nervoso, pediu-me desculpa e trouxe afinal a ficha de identificação. Foi aí que vi levantar-se da penumbra de uma saleta contígua e gigante.

Se o leitor conhece um homem forte, muito forte mesmo, imagine uma pessoa duas vezes mais forte, e terá uma ideia desse gigante que veio andando até nós, botando ódio pelos olhos e espetacularmente bêbedo. O monstro passou por cima com desprezo e, agarrando o empregado pela gola do uniforme, entrou a sacudi-lo e insultá-lo em sueco. Às vezes, éramos arrolados nessa invectiva, pois o gigante nos apontava enquanto dizia coisas. O empregado,
demonstrando possuir um bom instinto de conservação, deixava-se sacolejar à vontade. Rosnando, o ciclope foi sentar-se de novo na saleta, onde só então dei pela presença de outro sujeito, também bêbado, mas sinistramente silencioso.

É hoje, pensei. Saí do meu Brasilzinho tão bom, fazer uma viagem imensa, para ser trucidado sem explicação por um bêbado. O fato de ser na Suécia, onde arbitrários atos de violência não são comuns, ainda tornava mais absurdo, um absurdo existencialista, o meu triste fim.

Indaguei ao empregado o que se passava. Ficou mudo. Insistia na pergunta, e ele, sussurrando desamparadamente, explicou-me que o gigante estava a pensar: primeiro, que não conseguira vaga no hotel por ser sueco e estar embriagado; segundo, que nós conseguiríamos por ser americanos, e norte-americanos. Ora, se meu amigo de fato era meio ruivo, seu jeitão era mineiro; quanto a mim, se fosse americano só poderia ser filho de portugueses. Por outro lado, o meu inglês amarrado não deixava a menor dúvida sobre a questão de ser ou não ser americano. Só mesmo um sueco bêbado em uma madrugada de neve e vento iria supor que fôssemos americanos. Mas agora era o próprio gigante que bradava para nós com sarcasmo e ira:

─ American! American!

Fiquei um pouco mais esperançoso, acreditando que ele falasse inglês, e disse-lhe, exagerando minha alegria e o meu orgulho por isso, que não éramos americanos coisa nenhuma, éramos brasileiros.
Não entendeu ou talvez pensou que estivéssemos covardemente a renegar a nossa pátria, voltando vociferar, em um esforço linguístico que contraia todos os músculos do seu rosto:

─ American! Dólar! No like!

Essa versátil discussão ia levar-me ao abismo, quando de súbito me apareceu que a palavra “Brasilian” havia penetrado enfim em sua testa granítica. Descontraindo os músculos, o gigante me perguntou:

─ Brazil?! No american? Brazil?

Não tinha certeza se ele estava me gozando, mas sua expressão era tão estranhamente deslumbrada e infantil que afirmei cheio de entusiasmo:

─ Yes, Brazil.

Ele se levantou, cambaleou, aproximou-se, apontou meu amigo:

─ Brazil, Brazil.

Veio chegando, sorrindo, em pleno estado de graça e grito com alma, como se saltasse o nascimento de um mundo novo.

─ Flamengo!! Flamengo!!

Imediatamente o gigante entrou em transe e começou a fazer problemáticas firulas com uma bola imaginária, mas dando a entender cabalmente o quanto ele admirava (admirava é pouco: o quanto ele amava) o malabarismo dos nossos jogadores. O gigante se desencantara, virando menino. A certa altura, depois de fazer um passe de letra, parou e confessou-me com um orgulho caloroso:

─ I Flamengo! I Rubens!

Ele não era sueco, não era gigante, não era bêbado, não era um ex-campeão de hóquei (conforme soube depois), era Flamengo, era Rubens.

─ You! Flamengo?

Que o Botafogo me perdoe, mas era um caso de vida ou morte, e também gritei descaradamente:

─ Flamengo! Yes! Flamengo! The greatest one!